Navego neste mar sem destino do fazer.
Debaixo do cobertor de areia que ali me fiz ficar.
Um sol demasiadamente desumano chegou ao meio dia.
Escaldante e mirabolante como se quisesse torrar a pele daqueles que estavam esticados na beira do mar.
Não havia vento, não havia turbulências nas águas salgadas, apenas um silêncio que cobria o cobertor do sol sobre os corpos.
Foram fracções de segundos,
de segundos que pareceram uma eternidade.
Um tempo que cada corpo ali esticado sentia na sua consciência,
na pele esticada.
O tempo esticado penetrado na consciência de quem ouviu o silêncio do sol…
Aquele olho sagrado que ninguém consegue olhar pra ele sem espremer os seus olhos.
E quem se atreve olhar deixa o seu semblante desfigurado como se algo descomunal estivesse acontecendo.
De repente o algo descomunal aconteceu nas fracções de segundos entre o olho do sol, o olhar atrevido dos humanos, dos cobertores e do silêncio nascido da consciência.
Cada corpo ali esticado estava parecendo que não havia vida neles, intactos, desfalecidos nas suas aparências, apenas a essência permanecia viva.
Como vê-la?
Veio então a curiosidade do olho do sol destinado em observar o humano neste estado.
Então descobriu que apenas um sono profundo permitiu este estado que absorvia a inconsciência desprovida e inevitável dos seres humanos.
Ali estava a sua essência, o seu presente divino e toda preciosidade desta essência sobrevoar sobre o corpo interno e externo do ser humano.
A presença e a grandeza do ser humano diante da própria essência.
E a essência esculpida da mais tenra energia que a vida recebeu da existência.
E a existência que nasceu da luz que brilhou carinhosamente
fazendo aqueles corpos adormecidos pela inconsciência…