O OLHO DO SOL

por Irene Zanetti

Navego neste mar sem destino do fazer.

Debaixo do cobertor de areia que ali me fiz ficar.

Um sol demasiadamente desumano chegou ao meio dia.

Escaldante e mirabolante como se quisesse torrar a pele daqueles que estavam esticados na beira do mar.

Não havia vento, não havia turbulências nas águas salgadas, apenas um silêncio que cobria o cobertor do sol sobre os corpos.

Foram fracções de segundos,

de segundos que pareceram uma eternidade.

Um tempo que cada corpo ali esticado sentia na sua consciência,

na pele esticada.

O tempo esticado penetrado na consciência de quem ouviu o silêncio do sol…

Aquele olho sagrado que ninguém consegue olhar pra ele sem espremer os seus olhos.

E quem se atreve olhar deixa o seu semblante desfigurado como se algo descomunal estivesse acontecendo.

De repente o algo descomunal aconteceu nas fracções de segundos entre o olho do sol, o olhar atrevido dos humanos, dos cobertores e do silêncio nascido da consciência.

Cada corpo ali esticado estava parecendo que não havia vida neles, intactos, desfalecidos nas suas aparências, apenas a essência permanecia viva.

Como vê-la?

Veio então a curiosidade do olho do sol destinado em observar o humano neste estado.

Então descobriu que apenas um sono profundo permitiu este estado que absorvia a inconsciência desprovida e inevitável dos seres humanos.

Ali estava a sua essência, o seu presente divino e toda preciosidade desta essência sobrevoar sobre o corpo interno e externo do ser humano.

A presença e a grandeza do ser humano diante da própria essência.

E a essência esculpida da mais tenra energia que a vida recebeu da existência.

E a existência que nasceu da luz que brilhou carinhosamente

fazendo aqueles corpos adormecidos pela inconsciência…

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