O caminho para a montanha não deveria ser longo, pensou o menino…
Estava ele com a sua gaita de boca inseparável.
Todos os dias ele saia da sua confortável rede de balanço para unir as ovelhas…
Naquele ano as ovelhas já estavam com o peso da sua lã sobre o corpo. No verão passado elas não foram tosadas então logo o outono terminaria e o frio estaria sobre elas.

Para protege-las ficaram com a sua lã, cobrindo-as como se fossem um cobertor.
Haviam alguns filhotes e todo o rebanho se espalhava sobre a relva abundante naquele campo.
Era o trabalho do menino solta-las na parte da manhã para pastar no pasto coberto de capim á tarde ele as recolhia para pernoitar no celeiro.
Ali passavam a noite e ali sacudiam o corpo para depois se acomodarem sobre o feno, os arbustos recolhidos …assim dormiam e dobravam a quantidade de leite tirado pela família.
Quando o inverno chegou, o frio era intenso e cheio de dobras do gelo que se formava pelas geadas….
Todos os dias haviam muitos trabalhos e todos eles eram quase adiados para o dia seguinte, isso acontecia pelo excesso do frio naquela região.
Uma manhã gelada e feita de fatias de pão com um punhado de manteiga passada e assado no fogão a lenha, o café e leite enchiam um caneco esmaltado com umas florezinhas brancas.
Ali o menino tomava e admirava as ovelhas que estavam com preguiça de sair para se alimentar.
Os seus pés feito de couro com a mistura de osso caminhavam escorregando no gelo espalhados em cima da grama e plantinhas que elas se deliciam em comer.
O sol demorava para chegar e quando chegava então conseguiam comer as plantas sem o gelo…o menino da janela via este quadro quase todos os dias do inverno.
Assim ele cresceu vendo as ovelhas, lidando com elas…
O tempo também cresceu foi mais longo que a sua infância…Já tinha os seus 15 anos quando adoeceu o seu braço direito com uma queda que teve…
Enfaixado até o ombro pouco ele podia fazer pelas ovelhas, então ele caminhava com elas em direção a montanha, por conta delas serem muitas o rebanho muitas vezes se dispersavam…ainda assim com um canto, um assovio ele conseguia controlar a marcha delas, ora para a saída do seu repouso ora para o retorno dele…
Nesta ocasião o rapaz que havia deixado de ser criança, mais não deixou de ser o pastor das ovelhas, conseguiu levar as ovelhas até o alto das montanhas…
A sua alegria era imensa neste dia, pois conseguiu realizar o sonho de subir com as ovelhas no pico das montanhas.
Quando ele era pequeno, as montanhas pareciam imensas e impossível de subir até o seu pico…
Agora realizando o sonho esticou-se por inteiro de braços abertos sobre o ponto mais alto delas, assim ficou com os olhos abertos que aos poucos foram fechando sem ele mesmo perceber…
Na introspeção sentiu que parecia estar flutuando fora das montanhas, soltou os braços voluntariamente, sentiu que seu coração batia mais forte…
O silêncio das ovelhas era absoluto! todas elas pareciam adormecer como o seu pastor…
Levemente um vento passou sobre os cabelos do rapaz, e ele sentiu uma paz vinda da onde ele não sabia…
O seu corpo esticado, adormecido e feliz continuava ali, sentindo o brando vento das estrelas…
assim ele sentiu, estava confortável entre a consciência e a inconsciência…nada sabia sobre isso, mais sentia assim…
A sua respiração foi acentuada com vento que intensificou ainda mais com a passagem do perfume de uma flor conhecida na região…poderia ser das papoulas, das cravinas, das rosas…percebeu que não poderia distinguir qual flor seria…adormeceu e sonhou que ele voava entre as pedras e nelas haviam flores do campo sem muita beleza física, mas existia um perfume que se espalhava nos quatro cantos da Terra…
Algum barulho as ovelhas fizeram, e ele acordou…
E pensou então quando sinto um perfume que não sei da onde vem é o perfume que a terra exala para aqueles que gostam voar sobre as montanhas, do alpendre das janelas, das portas semi abertas, do olhar que o canto do olho percebe…
Não é o corpo que tudo isso sente e percebe?
A própria voz do rapaz responde a ele mesmo dizendo…È o teu SER que está dentro e fora de você…que experimentou a sua liberdade…de Ser