O VAZIO

por Irene Zanetti

O deserto humano, cercado pelos cipós secos que se envolve na terra árida sem sol…

Debruça-se na ramagem dos sentimentos.

Nem terra,

Nem céu…

O cinza que toma conta dos humanos assim eles estão…

Cercados fica o coração nos ramos que os espinhos alcançam,

Não há movimento para a liberdade nem lágrima para umedecer a alma-aflita.

Tudo está no limbo dos dias apagados e se despede dos arcanjos companheiros.

Derradeiro são os tempos assim sufocantes como o último gole que se possa dar ao alcoólatra,

O último cigarro ao fumante terminal…

Tudo no amargo com o gosto do fel..

Não há trégua senão a visão que se apega a mesma paisagem, que não se decifra, que ignora as imagens, os mistérios das cores obedientes ao artista.

Deformado fica o espelho de quem ainda se sente!

Cabelos assentados como se estivessem dobrados, unhas sem brilhos vitais, os olhos fecundos na escuridão.

O movimento este que não vem, que sem ele a alma não fala, não brinca e nem dança…

Nem uma faísca de Luz se vê apenas a ardência do toque constante no corpo para dizer ainda sinto, estou vivo.

A desobediência do coração é a única que ainda tem a coragem de mover-se, ali o movimento interior pulsa na vontade de retornar a vida.

Vagarosamente o corpo reage sofridamente como se estivesse passado meio século de paralisação interior e exterior.

Assim o vazio procede sem pedir licença…

Nem se desculpa por ter ocupado o espaço do movimento e da luz.

A estagnação que a Luz se incomoda, traz um fragmento que move as montanhas acanhadas do peito humano, elas são barreiras que foram construídas com o vazio dos sentimentos não alimentados, das emoções não reconhecidas, dos afagos retirados, das boas lembranças apagadas, tudo isso e outras negações ao amor, a vida, formou um processo duro e o coração se tornou selvagem.

O coração na figuração da caixa dos sentimentos, das emoções ficou endurecido cheio de vazios que perfurando o dia a dia, das noites não dormidas e dos encontros com o soluço da solidão.

Com os desencontros da alma com o coração e este com a razão.

Assim sem perceber que o tempo não parou para acudi-lo, seguiu o seu caminho ouvindo os soluços, o choro, os gritos e toda a embriaguez da alma desolada.

Mais há outra paisagem da atuação da vida no viver,

Há Luz na presença, esta insiste antes que a total escuridão se defronta com a face humana, é preciso o socorro acontecer, avança os milímetros deixados no coração em soluços, clama pela piedade e esta chega mansa, serena, mas com uma força descomunal na hora de ressuscitar a alma desvalida, no primeiro sopro, um pequeno movimento dos cabelos espalhados sobre o rosto, os outros sopros surgem sem esforço apenas a suavidade toma conta do despertar no humano…

A Luz brilha como se fosse um farol, ali fica por instantes não será preciso mais que isso…os olhos fecundos fincados na escuridão vão se abrindo como se estivessem lacrados por longo tempo…

Nada veem, apenas sente um tempo remoto dentro dele, como se estivesse ausente daquela realidade, como se fosse recém-chegado numa história que não era sua, mas a verdade despeita-o ela está dentro dele não se pode mais negar ele diz a ela, mesmo que seja difícil qualquer situação agonizante existe uma verdade e ela está viva!

A Luz e a verdade esclarece que sim. A verdade não pode ser modificada quando se faz tentativa de negá-la, o vazio se instala no lugar das dores, das decepções e de tudo aquilo que destrói a confiança, os sentimentos bons…

A verdade iluminada pela Luz senta ao lado do humano, e pergunta o que você fez com você tanto tempo camuflado e perdido do seu destino?…

– Neguei minha verdade responde o humano cabisbaixo…

A verdade não tem pressa e faz outra pergunta, ainda distante da sua consciência o humano ouve

-você pode dizer como chegou até o Vazio?

Com esforço das lembranças ele diz..

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