Irene em 18/10/2023 DESCE UM ANJO

por Irene Zanetti

Desce um anjo corajoso naquele dia que se fez noturno.

Veio junto com ele uma paz que deixou de existir há muito tempo.

O tempo da misericórdia dos povos antigos.

Tão antigos que a terra lhes trouxe as melhores tâmaras, doces figos, muito gergelim e apetitosas maçãs…

Entregou as sementes dos trigos diversos para o pão do dia a dia.

E com muita frieza do inverno inventaram os mais deliciosos chás.

Ali o anjo antes de descer sobrevoou tentando avisar que uma bomba ia cair sobre jovens distraídos e cheios do vigor da vida.

Antes de tudo acontecer, o anjo ajoelhou algumas vezes no pico mais alto da montanha.

Ali ele estava para soprar nos ouvidos de quem estava atento.

Olhou novamente para o céu e deixou escorrer um rio de lágrimas feitas dos cristais das manhãs.

Seu coração miúdo como os miosótis dos campos esticados, acelerou as batidas que antes quase não se ouvia.

Se deixou penetrar na galáxia que Terra nasceu, estavam ali atentas tantos outros planetas, corpos celestes alguns brilhantes outros escuros como as tardes nubladas e cheias de apreensão.

Por um instante se viu ajoelhado sobre as pequenas pedras escuras, pensou em desistir e dizer o quanto o sofrer humano ia acontecer.

Tinha os olhos pequenos para o tamanho do recado que tinha que dar á aqueles que prenunciavam a despedida da suposta paz naquele campo.

Do alto da montanha ele via os homens da boa vontade perambulando como se os seus sentidos sensórias já os avisava da quebra da liberdade de viver.

Assim olhou novamente como se o céu estivesse ficado mais próxima daquele pedaço de terra seca e abençoada.

Olhou como se fosse a última vez que veria a paisagem da Palestina. Olhou secretamente para mais adiante e ver que Israel não estava tão distante assim.

Por um momento não mais que isso, duas asas surgiram em seu corpo de criança.

Tinha ele a inocência de ver os seres humanos desprevenidos.

Era assim o seu trabalho durante os milênios de anos na Terra e todas as vezes era ele que faziam o voo sobre a cabeça das pessoas avisando que seus corpo seriam retalhados e sepultados em nome dos sem nomes que se tornaram depois que os mísseis soltaram fogo e se espalhou na grande parte dos amontoados dos humanos.

O bombardeio veio como um raio que os homens inventaram copiando o movimento da luz.

Tudo estremeceu como se fosse uma tempestade que não deu tempo de ninguém respirar sem a poeira da terra misturada com os cimentos e ferros que garantiam a sua proteção.

Como raio súbito e sem trégua mais e mais trovões ameaçadores provocavam a correria entre os seres humanos em pânico.

Assombrosos encontros no massacre dos corpos que ali se transfiguraram em cadáver em tempo de segundos.

Mortificando não só o corpo abatidos, mas a mistura do medo, desespero, da dor de não saber nos instantes sem nada pertencer, nem da terra e nem do céu.

Ambos estavam distantes para amparar e socorrer.

Ambos estavam perpetuando uma guerra sem o socorro de ninguém.

Não havia tempo para saber o que estava acontecendo, com as crianças machucadas, outras mortas, sem antes de crescer, de aprender caminhar naquele chão duro e machucado como seus corpinhos estavam.

Homens de barbas longas, estranhas para um mundo ocidente que sabe copiar os antigos que eles descriminalizam.

Como as bombas explodiam do alto para baixo o clarão pareciam de relâmpagos, feitos desenhos desengonçados e perigosos.

Tão perigosos que não houve tempo de acolher uma pedra, uma flor…apenas o rio das lágrimas que explodiam com braços feitos colo para aqueles que não vivos estavam mais.

O calor do fogo cruel que se espalhava cada vez mais, consumindo muitos corpos que não puderam ter o último afago dos seus ente queridos….

O anjo miúdo lá em cima da montanha estava como se fosse o guardião dos homens, das mulheres, daquelas crianças que carregavam a inocência nos olhos e nas suas mãozinhas, do olha comprido dos anciões carregados de sabedoria.

Quanta sabedoria e inocência juntas!

Pensou o anjo da guarda, Olhou novamente para baixou e para cima querendo que seu Deus pudesse fazer alguma coisa…mas o sol estava ali com o seu corpo aberto para toda a galáxia, sua luz vibrante continuava sem o efeito dos clarões que aconteciam naquele lugar.

O anjo inocente olha para os sol e diz, recolha todos aqueles que não perderam as suas almas….

Que Deus abençoa o labirinto dos nossos caminhos,

Que tenhamos fé e amor o suficiente para dividir com as outras pessoas que precisam.

Que assim seja sempre.

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