Irene em 08/11/2023 A FLOR QUE EXPLODIU

por Irene Zanetti

A FLOR QUE EXPLODIU

Quando a flor explodiu, viu-se a fumaça se esparramar sobre o grande pedaço da terra.

A loucura cedeu lugar para a cegueira da consciência,

estava o céu com a cor entre o marrom e o cinza derramado.

Naquele momento choveu uma chuva ácida que vinha do ódio do sangue humano.

Estava na escuridão dos sentimentos mais íntimos e impuros, assim o ancião descreveu o seu momento de dor.

Da dor é esta senhor, pergunta o pequeno burgues que nada sabia sobre a guerra na escuridão.

Ansioso para sair dali o ancião olhou para o céu segurando a mão do príncipe e lhe disse, corra para baixo da sua cama, ela te protegerá.

Assim o fez o pequeno menino.

Ali dormeceu até o dia virar noite e a noite virar dia….

O ancião caminhava sem rumo certo ou errado, á ele dizia, assim não saberei para aonde ir, e nem serei um estrume do canhão.

O jovem ouviu os murmúrios do velho, tocou em seu ombro e lhe disse, não há mais canhões, apenas os drones que sobrevoam no rumo certo.

Dias passados sem cor e com muita dor, o velho agora escorado pelo seu cajado, tentou iluminar o chão que seus passos atravessavam. O olhar luminoso pareciam com o olhar da lua nas noites quentes daquele verão infernal.

O fogo tomava conta de todas as regiões em volta do palácio do pai do príncipe.

O folego do fogo espalhado retirava do ar a umidade, logo todo campo estava minado das cinzas…

Foi então que houve a explosão transformando o pedaço de terra cobiçado em uma flor, apenas estúpida e sem cor determinada.

Sobre os escombros o ancião podia ver com o seu olhar de lua, a devastação que a flor causou entre as moradias, as praças solidárias daqueles que já tinham perdido as suas casas e as ruas denominadas.

A Terra neste momento certamente chorou de saber que muitos corações estavam parando com a explosão feita.

Que muitos corações sangravam sem saber porque.

Que o fogo estava se alastrando entre a multidão e os escombros espalhados.

O velho ali ficou absorto, no esforço de não querer ter consciência das imagens estranguladas e sem vida pelo chão.

O tremor das suas mãos não parava, e os seus olhos estavam empoeirados como se ele estivesse nas bordas de um vulcão.

Entre a ventania que o vento inventou, escutou-se um choro demorado parecia que era do ventre da Terra.

Sem o sinal ligado para pedir ajuda para os seus filhos esmagados entre os escombros a Terra umedeceu.

Nos entardeceres daqueles dias quentes, parecia que as águas barrentas do rio a lentidão parecia não ter fim.

O velho ancião sobre a montanha dos escombros ali estava, como um guardião para aqueles que tinham o coração guerreiro para continuar a vida. Ainda assim aos poucos estes corações iam parando sem mais a consciência viva.

Aos poucos os soluços iam parando como se fossem pingos das águas barrentas que entupiam as veias e o sangue coagulando vagarosamente como todas as guerras fazem com os inocentes.

Daqueles que olham, mais não enxergam a maldade do outro lado da história horrenda que está vivendo.

Olha como se fosse apenas uma criança pedindo o pão ou o doce com o choro.

Quantas foram as paisagens desfeitas naquele quadro vivo das histórias humanas que estavam terminando ali, entre a crueldade e o vômito das dores sofridas?

Quantas histórias se desfizeram com a explosão da flor ácida?

A acidez humana cobriu os humanos como se eles fossem apenas um papel nas tempestades que antes de terminar o turbilhão dos ventos e das águas revoltadas, os humanos se desmancham não sangrando, mas desintegrando.

Assim o sol registrou aqueles dois dias de intenso frio e fritura da pele dos corpos.

As horas escaldantes de novos dias e noites continuaram derrubando os muros que protegiam os bebês.

Sem os muros os colos que neles adormeciam estavam mortos, com as tranças dos cabelos esticadas sobre as fraldas umedecidas.

Haviam em volta do rosto da jovem mãe sinais de alguma vaidade feminina, no rosto havia o último sorriso de uma mãe segurando a mão da criança acordada.

Como ver um quadro doloroso deste e não chorar como uma criança, se eu tivesse asas, emprestaria para esta mãe acomodar o seu filho para ficar protegido e depois partir para sempre.

Pensou o velho sobre os escombros.

As rugas do rosto do velho senhor pareciam que era uma nascente, como são os minúsculos rios que surgem para dar vida á vida.

O retrato da mãe ali ficou, a criança deve ter tido um destino…o velho pensou…

Quantos se perderam pelo caminho que o sol não conseguiu orientá-los.

Quantas luas cheias ficarão nas memórias das crianças que não aprenderam amar as próprias vidas porque parte delas se perderam com as perdas mais afetivas e mais misteriosas se tornaram sem suas mães, irmãos, pais…

Serão eles uma geração desfalcada das emoções e dos sentimentos de fraternidade?

Quem serão estes filhos da Terra que a guerra destruiu?

Como serão estes garotos e garotas para a sociedade humana futura?

Guardarão quais memórias?

Sentirão saudades?

Terão cala frio nas noites de febre sem o manto familiar?

Como carregarão as suas lembranças?

E os laços afetivos abraçarão que realidade?

E as verdades desta realidade da guerra territorial, como serão no comando da reconstrução da sociedade.

Vida social doentia?

Reinventar a vida será difícil…mas necessário.

O príncipe escondido debaixo da cama escutou um assobio e lembrou do conselho do ancião, fica debaixo da cama e será protegido…assim ele o fez, os anos se passaram fora do castelo tudo mudou, tudo se tornou um novo mundo, e o príncipe envolto ao manto de ouro ali ficou esperando chegar a hora para iniciar um novo ciclo de guerra….

Pedimos a benção para órfãos de todas as partes do mundo, para que encontram pessoas que as amparam, protejam-nas das ruínas da vida.

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