Olhei nos olhos do estranho moço, estava fitando o nada fora do tudo no ônibus.
Tinha perdido o tempo parecia.
Estava lúcido, mais perdido pela realidade.
A sua verdade parecia tremenda e assustadora.
Vinha de longe a dor.
Parecia que ela já tinha tomado conta do coração jovem…
Sua sepultura rasa e quase sem a lápide que ainda não tinha sido depositada.
E nem poderia ser. O moço magro do olhar perdido estava vivo sentindo a dor da reclusão.
Da fúria gratuita das fardas dos homens maus.
Sua dependência, o seu estado da ausência da alimentação e o hálito feito do expurgo não vomitado.
Seus cabelos encaracolados, pareciam que nunca tinham sido penteado.
Olhei uma vez mais e aquele rosto adoecido pelo sentimento da dor desumana percorreu até a sua infância.
Como será que ela tinha sido, vago o olhar do moço continuou sem querer atravessar
a rodovia movimentada da saúde daqueles que andam com pressa, carregam a saúde em seus peitos.
Fora estranhos os olhares que cruzaram do moço e daquele outro que chegou e perguntou como você está?
Fiquei sabendo o que fizeram com você.
O olhar agora não era mais de um fugitivo, mais de alguém que soltou a dor do abandono.
Não quis sorrir, novamente cobriu-se de uma capa de dor sem palavras.
O mais jovem novamente olhou antes para um amigo quase desconhecido e disse, agora sem olhar aqueles olhos de menino perdido, esquecido da infância que já o abandonou.
Pensou aqui estou, sem saber mais nada senão a dor de não saber mais quem sou.
Apenas sinto o vomito da brutalidade que fizeram no meu peito, nos meus dentes, quebraram-me todo.
Estou esfacelado, a vida me trouxe aqui sem que eu pedisse como eu viveria, só agora entendo que era preciso descobrir muitas coisas para proteger a vida.
A travessia passou entre os entorpecentes, entre os respingos do ódio de quem não aprendeu amar.
Sinais devastadores, no corpo ficou sem que ninguém que soubessem e nem porque fizeram.
O menosprezo da própria espécie.
Nenhum abraço recebi até então, apenas palavras não ditas da minha boca não saíram.
Apenas os pensamentos se cruzam em meio a dor do corpo e da alma…..
Um choro começou logo que o ônibus partiu…
Irene em 20/07/2023.