ENCONTROS

por Irene Zanetti

Olhei nos olhos do estranho moço, estava fitando o nada fora do tudo no ônibus.

Tinha perdido o tempo parecia.

Estava lúcido, mais perdido pela realidade.

A sua verdade parecia tremenda e assustadora.

Vinha de longe a dor.

Parecia que ela já tinha tomado conta do coração jovem…

Sua sepultura rasa e quase sem a lápide que ainda não tinha sido depositada.

E nem poderia ser. O moço magro do olhar perdido estava vivo sentindo a dor da reclusão.

Da fúria gratuita das fardas dos homens maus.

Sua dependência, o seu estado da ausência da alimentação e o hálito feito do expurgo não vomitado.

Seus cabelos encaracolados, pareciam que nunca tinham sido penteado.

Olhei uma vez mais e aquele rosto adoecido pelo sentimento da dor desumana percorreu até a sua infância.

Como será que ela tinha sido, vago o olhar do moço continuou sem querer atravessar

a rodovia movimentada da saúde daqueles que andam com pressa, carregam a saúde em seus peitos.

Fora estranhos os olhares que cruzaram do moço e daquele outro que chegou e perguntou como você está?

Fiquei sabendo o que fizeram com você.

O olhar agora não era mais de um fugitivo, mais de alguém que soltou a dor do abandono.

Não quis sorrir, novamente cobriu-se de uma capa de dor sem palavras.

O mais jovem novamente olhou antes para um amigo quase desconhecido e disse, agora sem olhar aqueles olhos de menino perdido, esquecido da infância que já o abandonou.

Pensou aqui estou, sem saber mais nada senão a dor de não saber mais quem sou.

Apenas sinto o vomito da brutalidade que fizeram no meu peito, nos meus dentes, quebraram-me todo.

Estou esfacelado, a vida me trouxe aqui sem que eu pedisse como eu viveria, só agora entendo que era preciso descobrir muitas coisas para proteger a vida.

A travessia passou entre os entorpecentes, entre os respingos do ódio de quem não aprendeu amar.

Sinais devastadores, no corpo ficou sem que ninguém que soubessem e nem porque fizeram.

O menosprezo da própria espécie.

Nenhum abraço recebi até então, apenas palavras não ditas da minha boca não saíram.

Apenas os pensamentos se cruzam em meio a dor do corpo e da alma…..

Um choro começou logo que o ônibus partiu…

Irene em 20/07/2023.

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