AS PAREDES INVISÍVEIS

por Irene Zanetti

As paredes do tempo invisíveis e quase cansadas estão….

Com este pensamento a menina dos olhos escuros rabiscava fazendo de conta que escrevia na areia esticada.

Um pedaço de galho seco era o seu lápis imaginário, com ele ela fazia desenho inacabados, traços desengonçados, círculos que dizia ser os raios do sol, e quando o sol chegava, ele e se espreguiçava acordando os seus raios luminosos.

Eram tantos que certa vez os raios, que o punho da menina cansou de fazer de todos os tamanhos quando algum deles não ficava como ela queria ,levantava e passava a sola dos pés nos raios que imaginava.

Vinham de longe, muito longe pensava ela.

Eram tantos que quando ela olhava para o sol via apenas uma bola de fogo.

E quando o sol se ia, ficava pensando…para aonde ele vai descansar…

Imaginava que ele descansava num lugar enorme com seu travesseiro de ouro.

Com um cobertor de lá de carneiro quando era inverno,

ou num lençol de linho branco quando era verão.

Ficava imaginando um sol como se ele tivesse uma vida humana.

Não era confuso pensar assim, era assim que ela creditava ser…

Durante a noite ela via as estrelas de muitos tamanhos,

umas piscavam muito rápido e outras eram mais preguiçosas, lentas como o olhar dela passando para cada pedaço do espaço.

Noites longas e frias no inverno…

Havia o gelo derramado no telhado, sobre as plantas e o chão ficava úmido como se fossem as margens do rio lá embaixo…

Não sabia chorar nestes momentos, mas havia uma emoção que a enlouquecia, derramava lágrimas que não era de choro pensava ela.

Mas era na verdade de emoção, do sentir a sua unidade junto ao que via e sentia.

De longe ouvia os sinos salpicando o tempo da infância.

Os sinos eram como um girassol que rodava com os ventos do sul, ora faziam barulhos com as notas das batidas rápidas.

Ora com as batidas desesperadas que as chuvas das tempestades batiam…entre si.

Tempo de pura emoção da unidade com os outros sons vivos que a natureza mostrava…

Tempos de comunhão com o Sagrado.

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