MEMÓRIA ACORDADA

por Irene Zanetti

rene em 08/04/2024

Deito o sono sobre a cama,

recolho meus pensamentos,

as minhas histórias vividas,

nenhuma delas quero ouvir o barulho das suas expressões,

apenas os rostos de quem nunca vi, não se fastam do meu rosto.

Me benzo como se fosse colocar um fim sobre este momento, colocar um fim sobre o momento, e penso em adormecer.

Como um passarinho que gostar de dormir e não de voar.

Tenho medo do existir em mim, ele é muito acomodado como atrevido ao mesmo tempo, então faço esquecer as histórias.

Nenhuma delas me veste de calmaria.

A calmaria em mim está afastada e fora de mim,

reorganizo a forma de deitar como se fosse escolher como e quando dormir, na verdade eu quero mesmo inventar história para dormir.

Faço o meu apelo aos meus pensamentos como se eles fossem a causa da falta do sono,

na verdade descubro que o sono não dormido vem dos sentimentos confusos diante de tão poucas experiências que tenho com eles.

Assumo o constrangimento entre o eu e os meus sentimentos.

Sei o quanto são verdadeiros, abasteço com poucas migalhas pequenas porções deles.

Não aprendi amar que sou e o que não sou.

Despeço-me sempre de mim como se fosse os últimos momentos de vida em mim.

Fico calada quando as sombras chegam e me afastam da esperança,

Tenho olhos secos como os ventos do inverno.

Assumo que sou como o metal prata que escurece com o calor dos sentimentos, apenas sinto assim.

Quando os sentimentos chegam claros, meus olhos não obedecem a dor do peito que carrego sempre quando bate o estar só.

Há tanto por chorar diante da realidade, talvez não faço mais parte daqueles que já me esqueceram pelo tempo passado, pode ser também que seja apenas sensações que batem nas paredes da memória.

As memórias correm soltas como se eu nunca tivesse nascido novamente, elas passam folheando as figuras dos lugares e rostos tão definidos que as vezes penso que é a realidade do tempo presente.

São tantas, tantas que fico fechando as portas da aonde elas saem, assim não me torno apenas um ser ambulante dos tempos já vividos.

Apenas retorno ao labirinto do tempo presente.

Tenho as mãos esticadas de tempo em tempo curtos, exercitando os nervos tensos da repetição dos movimentos.

E sinto então porque faço isso.

Para continuar marcando presença nesta vida.

Continuo olhando a vida do movimento dos pássaros, e sinto o quanto gostaria de ser um deles.

Há perigo em todos lados, por isso cruzo as pontas da Terra entre o Norte que recebe os seres quando vem para colo dos humanos, o Sul que abre as portas para a partidas destes seres humanos ao espaço e tem também o Leste quando o Sol chega iluminando a vida deles, e o Oeste quando estes humanos descansam mesmo sem querer dormir.

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