Irene em 16/02/2024 SENTIR A TERRA

por Irene Zanetti

Sobra-me o tempo de não viajar sobre o lençol espalhado sobre a Terra.

Navego como se não tivesse o olhar e nem os pés doloridos da caminhada.

Faço o sinal da Cruz várias vezes como se temesse encontrar algo estranho além o humano.

Insinuo que o medo não me acompanha, por que acompanharia?

Se minha companhia está presente.

E os meus presentes são as caminhadas que sugerem que devo continuar.

Viajo como se os dias fossem acabar num clarão eterno.

Tenho dolorido só punhos que estão sempre em punho como se precisasse mantê-los assim.

Num estado de sobreaviso.

De questionamentos,

de imposição ao que é derradeiro.

Faço de novo o sinal da Cruz, me conforta sempre , e me sinto amparada.

As vezes porque é preciso assim se sentir amparada?

Que mal poderia se aproveitar da caminhante sem destino,

Senão distraí-la alimentando o seu caminho?

Como posso alimentar meu caminho se passo andar sem estar cravada no próprio tempo?

O tempo não se importa com o que fazemos com ele.

Ele apenas se importa com o que nós não fazemos nele…assim vem um pensamento sem ser gentil.

Escravizada me sinto quando percebo que estou falando com os meus próprios pensamentos.

Serão eles sempre a minha companhia?

Eles que me carregam?

Ou será eu a companhia de mim mesma, me unindo aos meus pensamentos?

As vezes me pego pensando, como se fosse o próprio relógio, que não tem descanso, mas também tem uma regra só.

Caminhar, seguir em frente como se fosse um andarilho em busca da Luz.

Rodopia como se quisesse enfrentar todos os males para que a terra continua rodopiando…certamente lentamente.

Sem exagero ela roda pois carrega tanto peso!

Carrega o próprio corpo, e de todos aqueles que tem o sopro da vida.

Ainda assim se sente livre, liberta de todos eles.

Ela só quer rodar, até parecer que ela gira.

Girar a sua própria vontade de voar.

As vezes ela se sente assim, nas noites escuras em que todos dormem descansando os seus pensamentos, e ela então se sente livre dos pensamentos e se cobre dos movimentos.

Fica apensar entre os pensamentos e os movimentos têm alguma notoriedade.

E a notoriedade se mostra satisfeita que pode assim navegar com a Terra, com as suas paixões escondidas, com os seus sonhos, seus segredos secretos, grandes como ela.

Em cada passagem que ela faz, ela acaba falando pra si mesma, gosto de voar como as outras terras existentes no espaço.

Gosto de navegar nos oceanos das energias puras.

Gosto de tudo um pouco que encontro nos caminhos conhecidos da minha rotação e translação.

Assim posso alimentar todas as vidas que meu corpo carrega.

Assim posso dividir com elas não só os alimentos, mais os experimentos da vida que faz o viver.

Viver nem todos aqueles que estão vivos, se lembram que estão,

que meu corpo faz de tudo para que estes possam viver com a liberdade das suas escolhas, dos seus desejos e de tudo que a criatividade humana possa revelar através do meu corpo e do seu corpo, dos seus comportamentos, pensamentos, memórias, das suas manias, desenhos, escritas, fantasias, tudo que ele possa concretizar e transformar em beleza e bondade pra ele e todos em sua volta.

Como a terra faz, dá voltas em torno dela mesma.

Consequentemente abraçando os pedaços do espaço, colhendo assim partículas, fragmentos e um amontoado de luz que é a raiz dos seres vivos.

Quanta coisa poderia mostrar para os meus filhos amados.

Filhos gerados do meu útero terreno,

que nem sonham que me transfigurei em uma bola meio arredondada, com algumas curvas, com bilhões de formas dentro e fora de mim.

Cada forma significa algo, importante ou não, mas que faz parte de mim.

O composto do meu corpo para atender não tão somente as necessidades dos seres vivos na sua concretude, mais para saber receber e oferecer tudo que posso, os espaços dos sentimentos noturnos e diurnos dos seres humanos.

Oferecer as campinas com margaridas tão inocentes, para que as lembranças da infância nunca adormeçam, porque elas tem a força da vida que cada um por ela passou.

Cada um do todo que existe entre o céu e a terra, entre as campinas floridas e a intelectualidade humana.

Poderia dizer, dizendo todo este processo dos movimentos contínuos e únicos de cada instante passa pela Inteligência Maior, pela Divindade e pelo Sagrado que carregamos.

A simplicidade do existir tão belo e tão intenso para os Humanos, tem um gosto dividido, cada um com as gotas do conta gotas para recolher o que gosta de fazer com o seu Ser.

A terra nas suas voltas as vezes sente o quanto Ela ama os seus filhos,

sempre de braços abertos feitos de âncoras para acolher aqueles filhos que estão chegando para nela viver o seu tempo.

Encaminhar os filhos que partem para o espaço que ela pertence.

E dar continuidade na vida daqueles que ficam em busca do amor, da saúde, da fé…

A Terra também está presente em todos os momentos que os seres humanos transportam as suas mensagens da forma como vivem ou querem viver nos seus braços.

# Certo dia a Terra devia ter pouco trabalho,

Tentou conversar com o Sol, distante, muito longe dos olhos da terra o Sol, pouco a viu chamando-o para o diálogo.

Como alguns dos seus filhos ansiosa sacudiu-se, querendo mostrar que estava necessitada de uma conversa.

Num ensaio de subordinação tentou olhar nos olhos do sol,

apenas para dizer a Ele, os seres Humanos precisam da sua ajuda…#

A ajuda para que eles aprendam a interagir com o que é mais Sagrado dele, e nele.

Que o sabor da vida seja então amaciada pelo tempo vivido na terra.

Retomo o caminho cheio de pedras miúdas, mas belas, cada uma com a sua característica, com o seu jeito próprio que a natureza as fez,

lembro-me então como posso caminhar sem apreciar a grandeza que une a nossa com o tudo que existe.

Outras publicações

Deixe um comentário