Não houve o choro chorado,
nem lágrimas derramadas,
Apenas a força que se moveu de dentro de cada um para dali sair…
Sair com as sacolas pesadas,
ali estão alguns retratos, documentos, libras, moedas poucas, uma mamadeira, fraldas,
para as crianças e para o velho que acompanha a família.
O olhar nada vê senão os que estão em seu redor.
Não há tempo para ficar triste,
apenas para correr contra o tempo,
para conseguir um espaço no trem…

Segue com poucas palavras e cada um delas cuidadosa como para ninguém escutá-las,
A entrada da porta do trem, tem os degraus que dificultam a entrada de cadeira de rodas,
é preciso que mais pessoas se unam e levantam o corpo do velho para entrar no vagão…
O apito do trem se esparrama por todos os lados… está saindo não se despede, pois logo retorna para buscar mais centenas de pessoas que ficaram esperando…
A noite cai como a neve que se intensifica como se fosse um cobertor que cobre tudo e todos que ali esperam o retorno do trem.
Há uma solidão circulando entre os seres humanos que esperam como se estivessem na espera da eternidade.
O silêncio neste momento é tremendo, severo e cruel,
A partida do trem…a escuridão da estação sem energia elétrica, destruída pelas bombas, tiros disparados…
deixa a paisagem no cinza escuro da noite.
Alguns relâmpagos que não vem do céu,
mas da boca dos canhões absurdos monstrengos…
todos eles mostram a multidão que aumenta a cada minutos que passava.
cada um com as suas sacolas,
de remédios,
biscoitos e chá na garrafa térmica…
No corpo de cada um, um amontoado de casacos para se livrar do gélido e nauseante frio que o vento estava trazendo…
O confuso e estranho frio das geleiras não tão longe assim…cuspe a sua baba feita de dezenas de anos cultivando o seu congelamento…
Agora descongela e deixa escorrer esta baba condensada da mais pura água do polo norte…
quando tudo começa para o adormecer, vem os pensamentos destas condições para poucos seres humanos que suportam… uma fina chuva que a própria neve se permitiu se transformar…
Alice com os cabelos loiros e escorridos,
se mexe entre os seus pertences.. e pergunta para quem está próximo.
_Aonde estamos? já chegamos no país vizinho?
Alice teve momentos epitérmicos de nível elevado e ficou no estado entre o consciente e o inconsciente …
depois dos cuidados de quem podia fazê-los, dando lhe chás, biscoitos e uma porção de afetos.
Retomou a razão, a evidência da onde estava, o que estava acontecendo…
uma nova crise, agora de choro sem fim.
Passadas as horas de muita ansiedade de todos, um ruído distante pareceu ser do retorno do trem,
Todos ali ficaram esperançosos de sair logo dalí.
Era a noite mais difícil que estavam passando…
E era a primeira das inúmeras que estavam por vir…
Alice celebra a chegada do trem como se estivesse ganhado um alto valor na loteria.
Seus olhos claros reforçou o sorriso que saiu sem querer dos seus lábios.
estava ela para enfrentar a viagem?
assim como ela, outras pessoas tiveram reações semelhantes…
Ah! os seres humanos querem ser diferente do outro, ao mesmo tempo do outro tudo quer,
o que querem é a outra parte dele e do outro…
Situações assim que pegam de surpresa,
que atiram o ser humano no vazio de não Ter.
O limbo sem escolha,
A baba que se torna deliciosa na secura que a sede pede algo para saciar a garganta …
Quantas coisas que se passa em cada um que está ali,
com todos?
Coisas da vida alguém pensa,
Será que apenas um destes humanos pensa assim?
Ou será que a maioria ou todos assim pensam?
Os pensamentos individual podem ser eles coletivo?
Será que alguém nestas condições precárias pode assim pensar?
quantas coisas que ficaram para trás…
que agora só se tem o pensamento que vem e traz informações da onde?
Estes não conseguem parar, estão sempre conversando com a gente.
Conversar com os pensamentos será que passa o tempo?
Alguém disse isso?
Ou foi minha voz que se livrou da minha boca fechada e saiu entre os dentes, de forma alta naquele silêncio estrondoso.
Não era a minha voz,
era a voz de outro ser humano um pouco mais distante de mim,
Então podemos pensar a mesma coisa, com o mesmo sentido, ao mesmo tempo?
A fumaça que o trem soltava trazia uma sensação nostálgica,
nebulosa e parecia que o ambiente estava ficando confuso,
todos no silêncio do seu Eu.
cada Eu sem comungar com o Eu do seu semelhante.
parecia que tinha linhas soltas no ar,
unindo as pessoas, ao mesmo tempo separando-as.
cada uma com o seu nó, as suas feridas, os seus medos,
porque uma só pergunta estava no pensamento de todos,
que dizia – O que será daqui pra frente?
Este pensamento estava em cada um simultaneamente em todos..
Tempo de Guerra.