por Irene Zanetti

Irene em 16/10/2025

Enfrentei o vento que trouxe a tempestade humana uma vez mais.

Tantas forças unidas que meu peito não as suportou.

Devolvi á elas o meu silêncio e a minha morada na terra.

Lhes disse sejam sempre bem-vindas, não com tantas forças juntas.

Esbarro nas esquinas que dão a vista de um hospital cansado das doenças humanas.

Antigo com as suas lembranças aquecidas pela vida daqueles que já se foram.

Novamente o vento veio, logo se deparou do meu lado e disse. Anda sempre assim sem nada carregar nos braços e nas suas dúvidas, apenas tenha certeza que teus passos carregam a vida e junto dela o seu corpo que não é vazio e nem doente.

Por isso as lembranças antigas sempre encontram lugar no seu peito e no coração dos teus passos.

Assim como o farol da noite que não dorme, suaviza a passagem da lua, nas manhãs a ela recorda também do seu nascimento e das suas primeiras palavras.

A Lua é um Ser movida pelo movimento do universo, assim carrega a terra e os seus Homens de boa vontade.

Tudo na media do movimento, como os ventos que assobiam durante as tempestades, e cantam no vazio da terra desconhecida pelos outros viventes.

Teus passos passam, deixaram rastros secretos da alma pura que ainda não nasceu.

Quem sabe será a eternidade a tua grande paixão?

Quem sabe que teu corpo surpreenderá a tua vasta coleção de letras espalhadas pelos campos habitados da terra.

Em outros momentos nos campos aonde a terra alcança os olhos só de quem vê pelos olhos do coração, das sensações e de todos os campos que ainda não conheceu.

Assim a terra suaviza os olhos da sua diversidade bela.

A crença desfeita pelo tempo de consciência e das vontades dos dias pequenos de sol, faz lembrar que o tempo do frio chegou com as sobras das caudas do sol.

Todo enfeitado de neve o vento traz os últimos frios do hemisfério sul.

A noite chega e o sono amolece as pálpebras dos olhos que deixaram de ver o desaparecimento do sol.

Ainda a dor da passagem do vento vazio retorna em mim.

Sonhos despedaçados, já reconstruídos e tantas vezes e o retorno não tem pena do coração humano cansado.

Abatido e com poucas lágrimas nos olhos, sinto o coração cercado pelos dedos de ferro dos sentimentos desequilibrados.

Nada mudou na essência do existir, apenas os ventos que traz o desequilíbrio, traz também o desajeitado tempo sem esperança.

O tempo olha pra mim e diz sem a amizade antiga entre nós.

O que posso fazer?

Digo, eu que digo!

Ambos ficamos calados, como se uma pedra caiu entre nós.

A pedra tão dura, brutal e fria como um gelo nunca desfeito pelo tempo, somente uma cruz, penso nela para não correr junto com o tempo mais severo que o desiquilíbrio.

Fomos longe demais, penso como uma história que nunca vai acabar e nem vencer as piores dores humanas.

Todos elas em punho como se eu ainda aguento mais tempestades do desiquilíbrio emocional e psíquico do ser humano.

Como fazer as passagens mais amargas, e difíceis de atravessar.

É como se tivesse que atravessar o continente nadando com um só braço, e sem saber nadar.

Atravessei rios gigantescos, sem a esperança de um barco chegar e me retirar dali, no gigantesco rio que corre para desembocar no mar interminável.

O mar dos vivos e das histórias mais antigas possíveis que carrega, nas costas todas as dores de cada história vivida.

Deixo o meu pesar leve permitindo as lágrimas escorrer.

Tento lembrar de algo que me deixa um pouco sóbria de mim mesma, mas o espaço que estou está terrivelmente avançado no desiquilíbrio e na forma do meu existir.

Paro á poucos metros da minha própria vida, e lembro que ainda sou eu.

O eu que deixei que a neve que nunca existiu fizesse companhia aos meus olhos sem a máscara da vida.

Quando o sol esmaga com a sua brisa mais suave que existe.

A neve que parecia doce, mostra o seu desaparecimento como se fosse um algodão doce que a criança devora.

Sinto a criança em mim como se eu nunca tivesse saído dela.

Uma pena trago de um passarinho que deixei quando viajei para a adolescência.

Cuspida a solidão se foi como uma guerreira cansada que saiu de uma guerra fria e absurda das relações que encontrei na vida.

Sempre o processo da vagareza do tempo quando ele é difícil.

Chego na curva da vida que encanta a liberdade que nunca existiu em mim, nem mesmo quando as asas já tinham nascidas e cheias de penas dos passarinhos da minha imaginação.

Como uma pomba que alça voo para voar no rasante das suas possibilidades e das suas faltas de jeito para voar, eu voei.

Assim o tempo ingrato amoleceu, num sono quando adormeci querendo viver um tempo desconhecido.

E ele trouxe as raízes que ficaram na terra viva.

Filhos, as raízes da vida para que a eternidade continua sendo eterna.

Quantas promessas prometidas e não aceitas da mesma forma que os dragões não conseguem parar de soprar o fogo graúdo da sua boca.

Tempo, dos tempos desconhecidos abre os braços e num impulso neles me joguei.

Com os olhos fechados trouxe as raízes para fora de mim.

Guardados ficaram o tempo da ebulição humana.

Quem eu era para garantir que conseguiria mãe ser?

Quantas dúvidas, quantas omissões que o medo de errar invadia meu coração!

Baixinho o choro sempre vinha na forma solitária de não ser a mãe que eu pensava ser.

Esta mãe, aos deuses do universo todos sorriam como se fossem os meus amigos preferidos. E diziam é assim mesmo, logo eles crescerão.

E cresceram, já não os conheço como crianças, agora adultos a distância daquela mãe que se apavorava com um soluço de cada um, saboreava a vinda deles no meu colo, mais ainda assim eu não sentia que era mãe. Porque?

Eu não merecia tanto encantamento e amor…

De volta da vida, a primazia das estações sempre me acompanharam, na transformação do clima, das chuvas pesadas, dos ventos uivantes, do sol escaldante, das estrelas mais próximas da terra, outras da longitude do espaço sem fim.

O frio do inverno acesso no hemisfério sul, estranho e desiludido de ser amado pelos poucos que gostam do seu frio congelante.

Ficava pairando no ar como se fosse nunca terminar.

As vezes reunia as suas lágrimas e transformava em minúsculos rios na pele do rosto rosado que ele deixava.

Tempos assim o fogo do sol não aparecia para aquecer as pontas dos dedos congelados.

Assim que o vento dava uma trégua, os caminhos da vida parecia renascer, parecia devolver um pouco do calor esquecido pelo sol determinante, este que apenas fica lento não da sua velhice, mas da sua determinação de sempre iluminar tudo que tem pela sua frente, atrás, em baixo e acima de si.

Tempos que rasgam as realidades das histórias, dos secos e imundos sentimentos que não se sabe como eles poderão desaparecer ou evitá-los para que eles não acontecem.

De novo o desequilíbrio ronda as estradas de quem caminha descalço.

Mesmo que a presença do sol se torna quente e eterno, os viventes sofrem as consequências dos dissabores, das lutas e dos arranhões que eles fazem.

Os arranhões que rompem a pele das ações pacientes e dos seus efeitos que deixam de viver a beleza e a calmaria da vida.

Pedaços da vida descobertos nas suas entranhas e nos seus arranhões sangrentos.

Pedaços da vida que rompem com o silêncio de quem nunca sentiu uma alegria, uma leveza da alma, apenas um tempo que nunca é esquecido e nem abençoado pelos deuses.

Mas ali, estão aquecidos pelo sol que nunca os deixa sozinhos e nem cobra nada dos seus raios que pouco ilumina as histórias confusas para quem está na opressão, e na sua missão de ter que sobreviver diante da miséria do desumano.

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