RODOMOINHOS

por Irene Zanetti

Irene em 30/07/24

Lembro dos rodamoinhos que surgiam entre o cafezal,

um círculo de pó da terra girava devagarinho no começo, depois os círculos iam subindo como se quisessem alcançar as nuvens,

As nuvens baixas querendo sentir o cheiro da terra que começava ficar encharcada com as águas das chuvas.

Aos poucos as chuvas ficavam apressadas e derramam montes de lençóis de água.

Alí ficava na janela baixa que só os meus olhos e meus cabelos podiam ver e sentir.

Olhava de longe o alvoroço que o vento fazia com os círculos do pó e com a água derramada da chuva.

O vento sempre castiga aquele que não sabe a sua direção.

Sempre atravessando os caminhos dos indecisos, e daqueles que não sabem tomar água da fonte.

Está ele alertando se o sol chega nas manhas que chegam a galope, como se fossem avisar que há perigos pelos caminhos que ele atravessou.

Dos perigos dos imprevistos, das ciladas dos maus entendidos, e da grande ausência da consciência dominada pela racionalidade.

Assim o que meus olhos viam nestes momentos foram cravadas na memória do meu ser.

O sentido que eu sentia era pouco assustador, porque eu não sabia interpretar os perigos que o vento queria avisar.

Ele avisava do jeito dele e eu apenas com os olhos enxergando os descuidos que ele trazia com as águas das chuvas compridas, como se fossem os fios de luz do sol que ficaram desbotados nestes momentos de rebeldia de todos envolvidos nestes acontecimentos que a natureza não explicava apenas cedia ao sopro influenciador do vento.

Hoje deito com os olhos inchados, houve um imprevisto que meus olhos não queriam ver, mas o vento gelado das manhãs do inverno, me fez lembrar que do vento que conversava comigo e eu com ele, sem nenhum mistério, apenas o encontro de ambas as forças geradas pela entrega de ser e de ver e ouvir a voz, o manifesto da alma do vento.

Hoje, minha alma da infância deixou-se, escorregar pelas lembranças de tempos do entendimento que se transpuseram como placas e destas em memórias que os acontecimentos acontecem, e a gente fica cegamente desnorteado fingindo que nada entende, mas que no fundo está tão claro e transparente.

Os dias têm passado como relâmpagos que enfeitam as noites escuras.

Tempestades diurnas e noturnas, não se preocupam com a quantidade de ventos que surgem, os dias já são longos agora como os anos que se passaram, lá atrás quando as tempestades eram vistas a luz da infância, pelo sentimento do gostar ou de ter medo.

As tempestades elas surgem facilmente assim penso.

Talvez eu queira ser como elas andar sem o rumo humano, o meu ser pede nisso.

Viajantes do tempo sem censura de viver o silêncio e de subir nas montanhas espinhosas…

Carrego assim o pensar humano, como pedaço do galho da árvore, e depois de alguns goles de água deixou-me vagarosamente o copo vazio.

Antes que a água se esvazia, outro copo preencho para o corpo como se um banho tomasse do lado de dentro, para aquecer e abastecer minhas vísceras, órgãos já no ponto do encolhimento, e da hora de despedir das coisas mais importantes que agora são apenas um retrato vivo, uma história que nem precisava aguardar o objetos, que a história jamais seria esquecida…

Os anos atravessados de ponta a ponta não lutam mais para lembrar os olhos que os ventos está pra chegar.

Os olhos sabem pois as lágrimas se soltam como se fossem os vestígios que ele está chegando, apenas assim.

Assim chega, assim atravessa o âmago daquilo que o peito carrega, e parte sem deixar saudades, porque parte sem dar explicação e nem um cafuné faz, apenas logo ele dará meia volta, e de novo saí como se nunca vai envelhecer e nem ter os imprevistos que assustam, e a gente precisa seguir a jornada…

Os imprevistos não sabem assobiar e nem fazer caretas, apenas saem em busca de novos rumos e de quem espera por eles….

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